Foto: Vinicius Becker (Diário)
Pedro Schmitt, 31, (à esq), Felipe de Lima, 35, (ao lado) e Lorenzo Barros, 25, (com a barra), são atletas do Calabouço e vão competir neste fim de semana.
Força, precisão e silêncio. O levantamento de peso olímpico, esporte que por décadas foi visto apenas nas telas durante as Olimpíadas, vai ocupar o centro das atenções em Santa Maria neste fim de semana.
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O Campeonato Gaúcho de Levantamento de Peso Olímpico, que será realizado no Ginásio D do CDM, promete aproximar o público de uma modalidade ainda pouco conhecida no Estado. A competição que acontece no sábado (25), das 9h às 20h, e no domingo (26), das 9h às 15h. Estarão presentes atletas de diferentes municípios para competir e acompanhar as provas. A entrada é gratuita.
É a primeira vez que Santa Maria recebe a competição, organizada pela Federação Esportiva de Levantamento de Pesos do Rio Grande do Sul (FELP-RS). São mais de 50 atletas inscritos. Além de Santa Maria, estão confirmados competidores de Bagé, Santo Ângelo, Santa Cruz do Sul, Canoas e Porto Alegre, entre outras cidades. Da sede do evento, participam representantes de boxes de crossfit como o Forseti Fitness e o Scrum Centro de Treinamento. O destaque, porém, fica para o Calabouço, responsável pela organização local da competição e que levará 22 atletas pra a disputa.
Veja o vídeo
Um esporte de força, técnica e disciplina

O Calabouço é uma equipe fundada e liderada por Gabriel Maders, 31 anos, bicampeão estadual de LPO, que irá defender mais uma vez o título este ano.Engenheiro mecânico de formação, Gabriel conheceu o levantamento de peso olímpico em 2017, durante o período em que estudou no Canadá. Lá, treinou com uma equipe de iniciantes e descobriu o que viria a se tornar sua paixão.
— Parecia ser o ápice do que o corpo humano conseguia fazer dentro de uma academia. É um esporte que exige força, mas também coordenação, mobilidade e flexibilidade.
De volta ao Brasil pouco antes da pandemia, começou a cursar Educação Física e começou a ensinar o esporte a quem demonstrava interesse. O projeto cresceu e hoje conta com cerca de 52 alunos, entre iniciantes e atletas experientes.
Ele conta que o nome do espaço surgiu de forma espontânea, da época em que treinava em uma pequena sala sem janelas. Os colegas começaram a apelidar o local de “Calabouço”. O apelido pegou, e virou identidade.

O ambiente, segundo ele, foi construído com a ideia de comunidade:
- Sempre quis um espaço onde fosse cultivada essa questão da comunidade, todo mundo junto. Mas naquela época eu não tinha o mínimo de noção disso. Lá no início, tem muitas chances de eu ter feito edição física só porque eu queria treinar isso. E com a minha paixão e a minha vontade, foi dando certo. Então, creio que só foi através dessa dessa vontade de fazer o esporte, e a dificuldade que é e toda a recompensa, que a gente conseguiu construit isso. Mas nunca imaginei que seria assim, com 22 atletas no campeonato, é algo bem legal.

E se engana quem pensa que o levantamento de peso olímpico é um esporte restrito a atletas profissionais. Gabriel conta que o público é diverso: há professores de educação física, advogados, médicos, empresários e estudantes, de diferentes idades e níveis de condicionamento físico.
- O que atrai tanta gente é o desafio. É um esporte difícil, mas muito recompensador. Cada avanço técnico e cada quilo a mais levantado representa disciplina e constância. Isso motiva as pessoas - explica.
Os movimentos do levantamento olímpico

Na foto, Lívia Lezzi, de 34 anos, faz o movimento de arranco. Profissional de educação física e personal trainer em Santa Maria, ela conheceu o LPO em 2021 e vai competir neste fim de semana: — Nos últimos meses, os treinos foram bem intensos para chegar na melhor forma possível. Meu principal objetivo é superar meus recordes pessoais. Se vier uma medalha, vai ser muito gratificante — diz.
O LPO é composto por dois movimentos principais: o arranco e o arremesso. Além da força, o esporte desenvolve coordenação, equilíbrio, velocidade e mobilidade.
- No arranco, o atleta levanta a barra do chão até acima da cabeça em um único movimento.
- Já no arremesso, há duas fases: primeiro, a barra é levada até o peito; depois, projetada acima da cabeça.
Apesar das variações na execução, as técnicas são padronizadas internacionalmente.
- Cada corpo é diferente — altura, tamanho de pernas, tronco — e isso influencia na adaptação do movimento. Mas a estrutura básica é sempre a mesma - explica Gabriel.
Os treinos para a modalidade combinam técnica, força e hipertrofia, adaptados conforme o nível de cada atleta. Iniciantes focam primeiro em aprender os movimentos com segurança; depois, o treinamento passa a incluir exercícios complementares, como agachamento, musculação e trabalhos de estabilidade.
Rituais e tradições
Como nas artes marciais, o LPO também tem suas tradições. Gabriel explica que há gestos simbólicos e regras de etiqueta que fazem parte da cultura do esporte.
— No LPO, por exemplo, não se passa por cima da barra nem se coloca o pé nela. São gestos de respeito e também de segurança. Quem faz isso pode invalidar o movimento em uma competição. Quando alguém está fazendo uma tentativa pesada, o ambiente precisa ficar o mais parado e silencioso possível. O atleta está no limite da força e da coordenação. Qualquer distração, até alguém passando na frente, pode fazê-lo errar ou até se machucar. Apesar de ser um esporte seguro, a gente tenta manter essas regras para manter a a saúde do atleta e diminuir o risco dele errar.
Acessórios

Quem observa de fora pode estranhar o visual: mãos cobertas de pó branco, fitas enroladas nos polegares e rostos concentrados. Mas cada detalhe tem função.
— O esparadrapo no dedão ajuda na pegada, o dedão fica preso embaixo da barra, e a fita aumenta o atrito para ela não escorregar. O magnésio tem o mesmo papel: absorve o suor e dá firmeza. É o mesmo usado na ginástica e na escalada. São acessórios que deixam mais confortável algo que, naturalmente, é desconfortável — completa Gabriel.
Expectativa para o Campeonato Gaúcho

Esta será a primeira grande competição com participação em massa da equipe santa-mariense. Nas edições anteriores, o Calabouço havia levado apenas cinco atletas
— A expectativa é que vai ser muito trabalho. Então, eu eu gostaria que todo mundo conseguisse ter uma boa prova. Em relação à expectativa de medalha, a gente não sabe porque pode acontecer muita coisa lá na na hora, então a espero que todo mundo classifique e se divirta tá fazendo.
Como temos poucas pessoas que já tem a experiência, esses podem medalhar, mas as pessoas novas eu quero que tenham a experiência de participar do esporte e ver como é que é. Durante o treino, rem música, conversa, o grupo todo junto. Mas na competição, é só o atleta e a barra. É silêncio, concentração e controle. Isso muda tudo. Já eu vou com a expectativa de fazer minhas marcas melhores. Eu treino todo ano para chegar na competição e estar na minha melhor forma física. Esse ano parece que talvez ele vai dar tudo certo. Mas na hora, né, a gente vai descobrir como é que vai ser.
